sábado, 24 de outubro de 2015

Entrevista Thiago Zeni

Fomos colegas na altus. O Thiago trabalhava no setor de marketing e hoje é diretor de criação na www.agenciafibra.com.br.

Nunca trocamos grandes diálogos, mas acompanho alguns de seus passos no facebook e todos eles são direcionados na procura de uma vida mais plena e de um mundo melhor. Ele tem alguns projetos interessantes e sempre buscando empreender em coisas legais.

Leia abaixo a entrevista do guitarrista da Automations Band, Thiago Zeni.

Acho que todos, em algum momento, percebem que a música é algo além de dançar ou se chacoalhar, e veem que ela traz muitas emoções, e se fixa na memória ao longo da vida. Qual a música ou lembrança musical mais antiga que tu tens e qual o primeiro disco comprado com as próprias economias? Fale também, qual a música ou banda que fez tu perceber que a música teria uma importância muito grande na tua vida?

Cara, a primeira lembrança que eu tenho sobre experiência musical é até negativa. Eu sempre tive boa memória (o que as vezes é uma maldição… hehe) e, eu deveria ter uns 3 ou 4 anos de idade. Minha mãe comprou um vinil da Sandra de Sá e pra inaugurar largou em um volume extremamente alto a música Joga Fora no Lixo. Eu não gostava muito de barulho e foi um momento meio traumático da minha infância. Mal saberia eu que teria uma banda e ensaiaria em volumes bem mais elevados.

Também lembro, de domingos pela manhã, acordar bem cedo pra tomar café e já encontrar meu vô escutando música nativista gaúcha, como Canto Alegretense, e Guri, acho que Cesar Passarinho, mas acho uma música linda.

Quanto ao CD, eu não tive muitas influencias familiares na formação pelo meu gosto musical. Até 95, por aí, consumia todo o tipo de produto que a televisão me empurrava, além de não ter um aparelho de CD. Quando compramos um CD Player, juntei a mesada e comprei o já disco póstumo dos Mamonas Assassinas. Eu ganhei o aparelho na mesma semana que os caras morreram.

Mas a primeira música que mudou minha percepção sobre o tema chegou a mim pelo clipe. Em 96 assinamos TV a cabo e eu conheci a MTV. Num sábado qualquer assisti ao programa Top20 Brasil e vi um clipe da música Falling Love (is hard on the knees), do Aerosmith. O disco era o Nine Lives e tinha uma pegada bem mais pesada dos sons que eu consumia… um aspecto meio sujo na musicalidade, além do vocal rasgado do Steven Tyler. Embora hoje eu reconheça que o CD é altamente produzido, ele teve um efeito de me mostrar que existia algo além do que a grande mídia nos empurrava, que era o Sertanejo e o Pagode. A partir dali, comprei o CD e furei de tanto ouvir em repeat. Hoje eu nem sou um grande fã do Aerosmith, mas guardo com muito carinho a banda por ter aberto as portas do rock n’ roll e o blues, além de me incentivar a aprender inglês para aprender o que diziam as letras.

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A função da música pode ser também um modo de socialização, formação de grupos. E nesses grupos pode surgir a identificação com um estilo musical e também a apreciação (de cada membro) de uma banda específica, isso para manter a individualidade de cada um. Teve um grupo de amigos assim? Qual era a “sua” banda e existia algum estilo que não gostava e que outros amigos apreciavam?

No segundo grau, pra mim que vivi a época do pós-grunge, existia meio que uma divisão entre quem curtia rock e quem gostava de outros sons. Lembro que era muito clássico usar camisas pretas (que fediam horrores) com estampas dos discos ou bandas. Boa parte do meu ciclo de amizade mais antigo veio dessa divisão. Nos anos 90, como não existia internet, trocávamos CDs ou gravávamos as fitas e compartilhávamos em meio físico. Acho legal comentar isso porquê o acesso à música era bem difícil e mesmo assim acontecia e acabava juntando o pessoal. Dentro desse pessoal, tinha gente que curtia uma pegada mais 70, com Led e The Who. Outra galera que ia pro punk, com Ramones e Misfits, além do Grunge, que foi um movimento da minha geração. Até hoje, com menos tempo, mantenho contato com esse pessoal e é legal ver como os gostos amadureceram.

Eu não sei se eu posso dizer que eu tive uma banda preferida. O Aerosmith me levou ao Led, que me levou aos Stones e Beatles, que me empurraram pro blues que me levava ao Hendrix que ia ao Kiss e assim sucessivamente. Acho que é mais justo dizer que o rock, principalmente 70 e 80, falam comigo melhor que uma banda só.

Qual o seu show inesquecível, qual o que se arrepende não ter ido e qual o que gostaria de ir mas nunca teve oportunidade, seja pela distância ou até pelo tempo, tipo um show que foi realizado quando era criança ou não era nascido?

Eu tive muita sorte de estar bem empregado e já formado entre 2009 e 2014, que vieram shows espetaculares para o Brasil. Isso me possibilitou realizar muitos sonhos de ver bandas sensacionais ao vivo. Tive a chance de assistir U2, Pearl Jam, Foo Fighters (duas vezes), Aerosmith, Slash, John Butler Trio, Dave Matthews Band, Muse, Jack Johnson, Eric Clapton, Deep Purple, além do único cara que me fez chorar em um show, o Paul McCartney. Mas o show mais sensacional, disparado, foi o AC/DC em Buenos Aires. Foi tudo muito legal: uma viagem com amigos, uma performance de palco surreal, além de conhecer uma capital muito bacana. E o show virou um DVD.

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Me arrependo muito de não ter ido nos shows do Kiss, em Porto Alegre. Nem sou um grande fã da banda, mas além da música, acredito que um show bom se dá entre a coerência de musicalidade e espetáculo e, nesse quesito, eles ainda são uma referência.

Da minha lista de shows possíveis, tem 2 que ainda quero assistir: Rolling Stones e, com sorte, um Led Zeppelin, mesmo sem o Bonhan. Como sou guitarrista, ainda presto reverência ao Jimmy Page. Os que gostaria de ter assistido e não consegui, talvez o show do Ramones, de 94. Eu nem curtia a banda nessa época, mas quase não acredito que eles vieram para o estado e eu nem tive a chance de comprar os ingressos.

Se não pudesse escutar nenhuma banda ou interprete que lançou discos no século passado o que escutaria hoje? E qual a sua fonte de atualização musical?

Hoje tem tanta banda lançando sons que, confesso, não tenho muita paciência pra buscar novas fontes. É um grande erro e até me envergonho por isso, mas tudo me soa tão igual que acho realmente difícil ver alguém acima da média. Pra me atualizar uso o método old school de perguntar pra amigos. Vez que outra uso a sessão "descobertas", do Spotify, mas as opções não são lá grandes coisas. Mas ainda assim há gente muito boa fazendo coisas muito boas. Não com a mesma força de antigamente, mas com muita originalidade. John Butler Trio, da Austrália, é um grande exemplo. O cara faz uma mistura de timbres, ritmos e instrumentos que eu acho muito legal. Jet, também da Austrália foi uma banda que eu consumi bastante, mas acabou há uns 3 anos, e até hoje escuto os discos dos caras pela pegada rock n' roll.  O Slash fez ótimos trabalhos em carreira solo. Gosto muito do John Mayer Trio, que faz um blues de primeiríssima e do Muse, pela forma que constroem as músicas e pelos efeitos que usam. No Brasil, as bandas ou caem pra um lado papa-níquel ou viram uns chatos. Acho que o Teatro Mágico é uma grande banda, mesmo independente.

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Fale umas dez bandas, músicas ou discos que modificaram a tua vida de alguma forma e se quiser descrever como e porque?

  • Mamonas Assassinas, por ser a primeira compra;
  • Aerosmith, Nine Lives, por ser a abertura da minha cabeça pra um gênero apaixonante;
  • Michael Jackson, porque até hoje acho genial a mistura do Pop com pegada de funk, groovie e rock;
  • Led Zeppelin, que me fez tentar tirar as linhas de guitarra;
  • Guns n' Roses, por quê sou fanzaço do Slash;
  • Beatles, por que sim (hehe);
  • O Teatro Mágico, que com a mistura de música e poesia me ajudaram muito em um momento bem difícil da minha vida;
  • Foo Fighters, que eu escuto pelo menos uma vez por semana pra dar um gás na motivação e, pra mim, é o último respiro do rock que eu consumia e já não existe mais;
  • Green Day (Dookie), que deve ser o disco que eu mais ouvi quando guri e dá uma saudade quando escuto novamente;
  • E, embora não seja um grande fã hoje, o disco Música para Acampamentos, do Legião, foi bastante consumido entre meus 13 e 15 anos.

    Toca ou já tocou algum instrumento? Teve alguma banda, mesmo que imaginária, como ela era?

    Sim. Toco (ou tento) guitarra. Tive poucas bandas, porque nunca foi minha atividade fim e isso fez com que eu não me desenvolvesse no instrumento tanto quanto gostaria. A primeira era pura diversão e nada de qualidade. A segunda tinha qualidade, mas não tinha um clima legal… A que eu toco hoje, Automations Band, que foi montada de brincadeira, é a que melhor consegue juntar as duas coisas: tocamos bem (segundo quem já viu um show nosso) e nos divertimos. Pra mim ela funciona como uma terapia, já que não posso mais jogar futebol. É bem provável que eu precise mais dela do que ela de mim.

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    Já atacou de DJ ou algo parecido? Como foi a experiência?

    Não. No máximo separei uma playlist e coloquei a rodar. A experiência, neste caso, foi ótima. Só tocou músicas que eu gosto!

    Se fosse para participar de uma banda, qualquer uma, qual seria e que instrumento tocaria?

    Eu gostaria muito de saber cantar. Faço vocais na Automation em algumas músicas, mas é muito mais gritado do que cantado. Sempre ouvi dizer que o instrumento mais difícil e complexo é a voz e, confesso, gostaria muito de ter técnica e saber utilizar a minha.

    Que músicas ou estilo embalariam ou embalam tarefas cotidianas ou dias específicos, tipo passear de carro em uma tarde de sábado de primavera? Praticar um esporte radical? Atravessar a cidade a pé em uma madrugada de inverno? Coloque outros itens.

    Tudo depende do meu humor. Tenho escutado muito podcast sobre temas variados no carro, por exemplo. Pra fazer um exercício físico, preciso de sons meio motivacionais, um flerte entre hard rock e hardcore. Foo Fighters é sensacional pra dar aquela sensação de superar uma barreira e se esforçar um pouquinho mais. No playlist do meu carro tem de tudo, mas geralmente, à noite, prefiro sons que flertam entre o blues e o soul. B.B. King, John Meyer, Santana… já no caso de embarcar pra praia, pra não dar briga com quem vai de carona, deixo rolar aleatório.

    Acho que todos gostamos de algumas músicas que não tem muito a ver com a imagem que temos de nós mesmos, que música ou banda não gostaria de ser flagrado ouvindo por uma pessoa que não te conhece ainda? Que Poderia criar uma imagem errada do teu gosto?

    Eu penso que música é momento, sabe. Mas confesso que pra mim vai tudo da originalidade da coisa. Eu sei que o rock, hoje gênero de nicho, já foi pop. Se não tivesse sido pop é bem provável que hoje eu nem o conhecesse. Só que dentro dos gêneros do momento, existem sempre movimentos originais e movimentos focados na monetização e é muito claro isso. Não gosto de samba, mas se um dia me flagrarem ouvindo um Demônios da Garoa, um Martinho da Vila, eu não me envergonharia… nos meus artistas mais executados do Spotify tu encontras o Luiz Marenco. Eu não conheço quase nada de música nativista gaúcha e realmente não gosto da música só pra dançar, mas percebo no cara algo além disso… seja por letra ou interpretação…. Agora, se um dia tu me ver cantando alguma música do Belo, certamente me mudaria pro Nepal e viveria recluso em um templo budista pra buscar autoconhecimento.

    Na adolescência qual era o estilo de música que tu achavas que estaria ouvindo hoje e qual realmente está?

    Eu tive um professor no curso técnico de publicidade que disse uma vez que as mulheres definiam seu gosto musical quando adolescentes e os homens só depois dos 25 anos, pois não tinham maturidade, quando jovens, pra ter um gênero definitivo. Eu achei ele (e acho até hoje) um grande babaca por essa declaração. Eu ainda curto tudo que curtia antigamente, porém, parece que tem outro sabor. O rock e o blues ainda são minha fonte de consumo principal. Só tem algumas pitadinhas de pop que eu fiquei mais tolerante. Penso que aprendi a respeitar, inclusive, gostos diferentes do meu, coisa que quando mais novo não acontecia…. Acho que a única diferença é que não escuto exatamente as mesmas bandas ou artistas, até porque hoje o acesso a outras é muito mais fácil.

    Números. Quantos discos, CDs, DVDs, k7 e livros musicais já teve até agora. Indique alguns livros e filmes interessantes sobre música.

    Bah, essa é difícil. K7 original nenhum, mas gravados do rádio ou de amigos, certamente mais de 100. Discos de vinil, infelizmente não tive nenhum meu. CDs, em função de espaço, acabei dando vários pra primos, amigos mais novos, na tentativa de influenciar eles pro que eu considero bom caminho, mas posso dizer tranquilamente que tive mais de 200 CDs, por que gastava a mesada e primeiros salários nisso. DVDs de shows devo ter aproximadamente uns 40, fora os arquivos digitais de shows mais novos, em HD, que ocupam um belo espaço no HD e nos Backups.

    Quanto a livros, gosto muito de um com as melhores entrevistas da Rolling Stone. Não tem só música lá, mas tem várias entrevistas com Bowie, Lennon, e Dylan que são épicas. Gosto muito de Biografias… no momento estou lendo a do Clapton e é bem legal entender como ele chegou a ser quem é. Antigamente tinha lido o livro Mate-me por favor e até hoje não sei se gosto ou não dele.

    Já nos filmes, tenho em casa o DVD do Tommy, do The Who e acho sensacional. Não gosto de musicais, mas tem dois que acho muito bons, que são Mama Mia, com canções do Aba e Across the Universe, dos Beatles. Como guitarrista, acho sensacional o documentário It might get Loud, que mostra como diferentes músicos compões e o Sound City, que mostra a vida de um estúdio e a importância dele pra cena rock. Além disso, clássicos como a Escola do Rock, Rock star e Quase famosos, que vira e meche eu paro pra assistir novamente. Tem também o August Rush, (não sei o nome em português) que acho sensacional pois ilustra como a música boa pode ligar pessoas.

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    Faça duas ou mais perguntas para si mesmo a respeito de música e responda.

    Gostaria de seguir carreira como músico, ter uma grande banda e fazer sucesso?

    Não. Música pra mim é um hobbie, diversão e, às vezes, um estado de contemplação. Trabalhar com isso, por mais encantador que possa parecer vendo de fora, certamente me faria encontrar algumas barreiras pra não ouvir os sons de cabeça aberta como o faço atualmente.

    Qual o legado da música pra tua vida?

    Quando se gosta de alguma coisa é impossível não tirar proveito dela. Conheci muitas pessoas por afinidade musical, repensei muitas vezes a minha atitude em determinadas situações por lembrar de alguma dica intrínseca em alguma letra e, talvez de mais objetivo e prático, a música me impulsionou e facilitou o aprendizado de um novo idioma. Minhas influências são maioria de língua inglesa e hoje, se falo um pouco desse idioma é em função de curtir os sons e descobrir o que eles queriam dizer.

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