sexta-feira, 16 de maio de 2014

Entrevista Jéferson de Souza

O Jéferson é vocalista e guitarrista da banda Vitrô, onde meu sobrinho é baterista, conheci ele através deste caminho. Também já fiz duas disciplinas de Publicidade e Propaganda com ele. Vi alguns shows e acompanho o seu ritmo, pela sua timeline no FB. Sempre num ritmo intenso, de shows, projetos e demais tarefas culturais, finalizando disco solo, gravando disco com a Vitrô, participação no Sarau com Café (projeto cultural bastante interessante aqui de Taquara), e também já publicou um livro.

Também intenso em suas interpretações e composições, sempre investindo e acreditando que é possível viver de cultura, mesmo em um país/estado/cidade que não acreditam e investem o quanto deveriam ou do modo que deveriam.

1) Acho que todos, em algum momento, percebem que a música é algo além de dançar ou se chacoalhar e veem que ela traz muitas emoções e se fixa na memórias ao longo da vida. Qual a música ou lembrança musical mais antiga que tu tens e qual o primeiro disco comprado com as próprias economias? Fale também qual a música ou banda que fez tu perceber que a música teria uma importância muito grande na tua vida?

Minha família, por parte de pai, sempre gostou muito de música. Meu pai tinha uma coleção de discos de vinil. Ele foi um dos primeiros "DJs" na cidade, na época não se chamava assim, mas ele gostava de comprar discos e tocar nas boates, fazer o pessoal dançar. Eu lembro de pequeno, escutar sertanejos como Leandro e Leonardo, samba como Raça Negra, e rocks como Paralamas e Legião... Acordava no domingo bem cedo, colocava um disco pra tocar e ia correndo para a cama dos meus pais, ficar com eles. Lembro também das viagens para praia ouvindo fita K7 no rádio do carro. Ótimas lembranças.

Por sorte, consegui pegar a época da fita K7, em que se esperava colado no rádio, aguardando sua música favorita tocar, para poder gravar e ouvir quando quisesse. Se dava muito mais valor ao rádio, havia mais paixão, mais amor ao que se ouvia. Com meus 10 anos, ganhei meu primeiro rádio com CD, e minha primeira aquisição foi um CD do KLB, que na época era muito famoso e eu gostava de umas 2 músicas.

Depois lembro da minha irmã ouvindo rock, enquanto lavavamos a louça do almoço. Raimundos, Capital Inicial, Acústicos e Valvulados. Eu sempre gostei de cantar, e gostava do jeito que aquilo era feito. Depois comprei alguns CDs da Legião Urbana e foi quando eu percebi que aquilo faria parte da minha vida, me influenciaria a começar a tocar e a compor.

2) A função da música pode ser também um modo de socialização, formação de grupos. E nesses grupos pode surgir a identificação com um estilo musical e também a apreciação (de cada membro) de uma banda específica, isso para manter a individualidade de cada um. Teve um grupo de amigos assim? Qual era a “sua” banda e existia algum estilo que não gostava e que outros amigos apreciavam?

Meus amigos sempre foram muito variados quanto a estilos musicais. Dentro do rock, cada um gostava de uma coisa, porém haviam bandas em comum que criavam essa ligação. Nessa época de grupos de amigos, eu era muito fã de Nirvana, meus amigos gostavam mais de outras coisas, como Cascaveletes, Eric Clapton... Nunca gostei de Guns e de Ramones, bandas que a maioria dos meus amigos gostavam.

3) Qual o seu show inesquecível, qual o que se arrepende não ter ido e qual o que gostaria de ir mas nunca teve oportunidade, seja pela distância ou até pelo tempo, tipo um show que foi realizado quando era criança ou não era nascido?

Um show inesquecível foi meu primeiro show do Los Hermanos e Graforréia Xilarmônica no Opinião, em Porto Alegre, em 2006. Duas das minhas bandas favoritas e pude vê-los na mesma noite, no mesmo palco, foi incrível.

Um show que eu perdi foi do The Strokes em 2005 (ou 2006, não lembro) em Porto Alegre. Estava sem dinheiro pra ir e me arrependo até hoje. Shows que eu gostaria de ver se pudesse voltar no tempo seria Beatles, Nirvana, Legião Urbana. Um show que eu quero muito ver é o do Foo Fighters.

4) Se não pudesse escutar nenhuma banda ou interprete que lançou discos no século passado o que escutaria hoje? E qual a sua fonte de atualização musical?

-Eu gosto muito das atualidades. Sempre estou procurando bandas, artistas novos. No Brasil, gosto muito essa geração nova, Silva, Tiago Iorc, Marcelo Jeneci, Phill Veras, 5 a Seco, Apanhador Só, bandas "de fora" Two Doors Cinema Club, Jake Bugg, Ed Sheeran, Of Monster and Men... Gosto muito de acompanhar blogs de música indie, como o indi.e.geste, e muitos blogs (e páginas do facebook) de música independente, sempre se descobre uma nova banda favorita.

5) Fale umas dez bandas, músicas ou discos que modificaram a tua vida de alguma forma e se quiser descrever como e porque?

Vamos lá:

* Beatles (Revolver): ouvia muita história dos Beatles, mas nunca tinha parado para ouvir. Comecei com algumas músicas aleatórias. Não curto muito a fase "yeah yeah yeah", ouvi algumas do White Album, Abbey Road, mas foi o Revolver que mais me impressionou e me fez virar fã.

* Nirvana (Nevermind): é meio que um clichê, aquela intro de Smells Like teen Spirit bateram forte na cabeça. Meu primo era fã alucinado, me contou toda a história, me emprestou o disco e disse "Escuta isso, tu precisa gostar.". Logo de cara, não tinha como não gostar. Depois virei fã alucinado também, lia livros, assistia documentários, tinha todos os discos, sabia toda a história. Acho que nunca fui tão fã de uma banda quanto deles.

* The Strokes (Is this It): outro clichê. Na época, meu amigo descobriu eles pela MTV, e me mostrou... Nós piramos, ouviamos direto. Foi o que nos motivou a montar uma banda, tocávamos várias desse disco.

* Los Hermanos (Ventura): eu tinha aquele preconceito do Los Hermanos com Anna Julia. Não gostava do primeiro disco por ser meio hardcore. Ouvi algumas músicas do Ventura e fiquei impressionado com a forma de composição das músicas, construção de letras, arranjos. Virei fã. Corri atrás do "Bloco do Eu Sozinho" e depois veio o "4". Continuo não gostando muito do primeiro disco, hehe.

* Legião Urbana (Dois): meu primo tocava algumas músicas da Legião no violão e eu gostava. Fui atrás e comprei um disco, "Mais do Mesmo" uma coletânea. Achei incrível. Na época, não tinhamos muito contato com a internet, então eu comprava CDs. Por causa disso, sou colecionador de CDs, baixo música, procuro na internet, mas se gosto, procuro comprar o CD. Enfim, fui comprando os CDs da Legião até que encontrei o "Dois" e se

tornou meu álbum favorito deles.

* Foo Fighters (There is Nothing left to Lose): Quando eu comecei na música, eu tocava baixo e cantava. Depois de muitas mudanças na minha banda, acabei indo tocar guitarra. O Dave Grohl com o Foo Fighters foi o cara que me fez achar legal tocar guitarra, e querer fazer isso frente a uma banda. Antes desse disco, para mim, ele era "o baterista do Nirvana cantando e tocando guitarra". Depois desse disco isso mudou e eu me tornei fã da banda, tenho todos os discos e Dvds. Grande banda.

* Weezer (Maladroit): Weezer foi uma das primeiras bandas "indies" que eu gostei. Foi aquela banda que iniciou minha pesquisa em bandas que "poucos amigos meus conhecia ou gostava". Esse disco é ótimo. Weezer junta canções grudentas com guitarras pesadas. Música pop sem ser tão pop assim. Ou talvez sejam, não sei!

* Roberto Carlos (Detalhes): Meu pai é muito fã do Roberto Carlos. Quando ele era mais novo, queria ser o Roberto. Tinha roupas parecidas, cabelo... Eu achava meio brega, tinha certo preconceito. Depois comecei a ouvir e vi que ser brega é ótimo! Que preconceito é burrice! Que deixamos de ouvir ótimas músicas por besteira. Baixei a discografia do Roberto, e sempre que escuto me sinto mais próximo do meu pai e da minha mãe. Esse disco "Detalhes" além da faixa-título que não precisa descrição, traz pérolas como "Todos estão Surdos" e a incrível "Traumas", minhas favoritas.

* Frank Jorge (Vida de Verdade): Eu gostava muito da Graforreia, mas não conhecia o trabalho solo do Frank Jorge. Descobri os dois discos dele "Carteira Nacional de Apaixonado" e "Vida de Verdade" e me tornei ainda mais fã do Frank. Essa coisa de falar de amor, de não ter medo de soar brega, é ótima! Esse resgate a Jovem Guarda que o Frank faz é ótimo.

* Jorge Drexler (Eco): Não lembro como conheci a música do uruguaio, mas lembro que me fascinei na hora. Baixei muitas músicas soltas, depois fui atrás para comprar os discos. Drexler consegue juntar ótimas letras, arranjos e melodias. Para mim, é perfeito.

6) Toca ou já tocou algum instrumento? Teve alguma banda, mesmo que > imaginária, como ela era?

-Primeiro tentei aprender violão, mas não consegui. Aí um amigo me convidou pra comprar um baixo e montar uma banda. Fiz isso, comecei a aprender o instrumento e montamos uma banda, em 2002.

Aos poucos começamos a levar a sério, e nos destacamos, fizemos vários shows. No início a banda se chamava The Trash, tocávamos The Strokes, Nirvana, Foo Fighters, até CPM22... hehe. Depois começamos a compor e colocar nossas músicas no set. Em 2005 mudamos o nome para Vitrô, mudamos de baterista. Em 2006 nosso amigo, vocalista e guitarrista da banda mudou-se e teve de sair da banda. Eu sai do baixo e comecei a me dedicar a cantar e tocar guitarra. Após isso, mudamos muitas vezes de integrantes, o que atrapalhou muito, pois nunca conseguíamos gravar um material sem mudar de integrantes. Em 2013 eu comecei a gravar músicas para um projeto solo e este ano estou lançando meu primeiro disco... A Vitrô está em estúdio, para gravar seu primeiro disco também.

7) Já atacou de DJ ou algo parecido? como foi a experiência?

Gosto muito de gravar CDs para amigos com bandas novas que eu gosto... Fazer coletâneas... Mas nunca me arrisquei de DJ

8) Se fosse para participar de uma banda, qualquer uma, qual seria e que instrumento tocaria?

-Meus amigos tinham uma banda chamada "Ventura". Eu era muito fã das músicas deles, conhecia praticamente todas. Um dia me convidaram para tocar teclado na banda (sendo que eu não sabia tocar teclado), o ensaio seria no outro dia. Virei a noite aprendendo a tocar e tirando as músicas. Cheguei no ensaio e eles resolveram mudar a afinação dos instrumentos, mas acho que nem sabia por qual motivo estavam fazendo isso. Eu não consegui tocar pois não sabia, e foi muito frustrante, hehe. Depois de um tempo, acabei gravando baixo para uma música... Depois eles deram um tempo, e ensaiam esporadicamente. Eu participo quando posso, tocando guitarra e baixo. Era a banda que eu sempre quis tocar.

9) Que músicas ou estilo embalariam ou embalam tarefas cotidianas ou dias específicos, tipo passear de carro em uma tarde de sábado de primavera? Praticar um esporte radical? atravessar a cidade a pé em uma madrugada de inverno? Coloque outros itens.

-Gosto de fazer coletâneas com minhas músicas favoritas. Mesclo muita coisa, mas gosto principalmente de músicas que se pode cantar junto. Para andar de carro a tarde, Audioslave é ótimo. Para voltar de show em sábado a noite, Two Doors Cinema Club. Para ir pra praia, Paralamas e Los Hermanos. Não sei direito, vario muito.

10) Acho que todos gostamos de algumas músicas que não tem muito a ver com a imagem que temos de nós mesmos, que música ou banda não gostaria de ser flagrado ouvindo por uma pessoa que não te conhece ainda? Que poderia criar uma imagem errada do teu gosto?

-Sempre gostei muito de música pop. Uma banda que eu tenho vergonha é The Calling. Eu gosto muito do disco "Two", gosto da voz do Alex Band. Gostava muito de RPM quando comecei a tocar, pois não entendia como o Paulo Ricardo conseguia tocar baixo e cantar ao mesmo tempo! Demorei um pouco pra conseguir, mas consegui graças a ele! hehe. Tem muita coisa, eu acho, mas vamos parar por aqui, hahaha.

11) Na adolescência qual era o estilo de música que tu achava que estaria ouvindo hoje e qual realmente está?

-Eu achava que ouviria Nirvana pra sempre. Hoje quase não escuto. Nunca pensei que gostaria de Roberto Carlos e Belchior.

12) Números. Quantos discos, cds, dvds, k7 e livros musicais já teve até agora. Indique alguns livros e filmes interessantes sobre música.

-Parei para contar agora. Tenho cerca de 150 CDs, cerca de 80 livros (contando os que estão circulando por aí emprestados...) Mais de 30 DVDs (box do Woody Allen, Tarantino e Almodóvar) e DVDs de música (Beatles, Foo Fighters, Nirvana, Legião e Los Hermanos.

Livros sobre música... Eu indico o Almanaque da Jovem Guarda, além das biografias "Mais pesado que o Céu" do Kurt Cobain e "This is a Call" do Dave Grohl.

Filmes, o clássico "Alta Fidelidade", "Meu jantar com Jimi", "Back and Forth, Foo Fighters", "Os Piratas do Rock" e "Nowhere Boy".

Música é importante na minha vida pois ela compõe a trilha sonora do meu dia a dia. Música traduz o que eu sinto, ouvindo ou fazendo. Para mim é a melhor forma de se expressar.

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