segunda-feira, 19 de maio de 2014

Entrevista Paulo Monteiro

O Monteiro foi meu colega de firma lá nos 80/90, trabalhava em outro setor e eu não tinha muito contato com ele, a sua esposa Gisele também era minha colega, depois eles mudaram para SP e perdemos o contato.
Com o advento do Facebook nos reencontramos virtualmente, vi que em alguns momentos o Monteiro curtia alguns dos vídeos que eu postava e fiquei muito impressionado quando a Gisele colocou uma foto da discoteca dele, coisa de emocionar. Muitos falam mal das redes sociais, eu acho elas uma maravilha com a possibilidade de reencontrar e conhecer melhor as pessoas. Penso que poderia ter conversado mais com o Monteiro, pegado algumas dicas e sugestões com ele, pois suas preciosidades e conhecimento de música são de admirar.
1) Acho que todos, em algum momento, percebem que a música é algo além de dançar ou se chacoalhar e veem que ela traz muitas emoções e se fixa na memórias ao longo da vida. Qual a música ou lembrança musical mais antiga que tu tens e qual o primeiro disco comprado com as próprias economias? Fale também qual a música ou banda que fez tu perceber que a música teria uma importância muito grande na tua vida?
É difícil lembrar exatamente qual a lembrança musical mais antiga. Nasci e vivi em Passo Fundo no interior do Rio Grande do Sul, e até onde me recordo, meus pais ouviam mais música tradicionalista. Não à toa fui parar em uma “invernada mirim”, espécie de grupo de dança gauchesca (vanerão, xote, etc.) onde aprendi a dançar chula, dança do facão e estas coisas todas. Então, tenho muito presente isto. Também me recordo, um pouco mais tarde, com uns 11 anos de sentar com minha mãe e ouvir a primeira fase do Roberto Carlos, que, para a época, era considerado meio “rebelde”. Meu pai condenava ouvir “aquilo”, mas minha mãe se apoiava em mim para consolidar o gosto dela, e acho que ali, nasceu um certo interesse por algo mais “moderno”.
Logo mais tarde, já com uns 14 ou 15 anos, dei um salto gigantesco ao ser apresentado por um parente distante para um disco que, certamente, marcou minha vida: “Tarkus” do Emerson, Lake & Palmer. Fiquei encantado com todas aquelas nuances e o virtuosismo de Keith Emerson, Greg Lake and Carl Palmer. Aquele vinil que ouvi era prensado na Argentina, considerado um disco importado e, portanto, caro. Fiquei desesperado e, não por acaso, na primeira grana que tive sobrando, dei um jeito de comprar o que seria meu primeiro LP. Do xote ao progressivo...
Mas, apesar de adorar o ELP, a banda que acho que me fez perceber a importância da música na minha vida, veio bem mais tarde, nos primeiros anos de faculdade, já morando em Porto Alegre, quando comprei o “Rattlesnakes” do Lloyd Cole & the Commotions. Por aí já se começa a perceber o nível de ecletismo que naturalmente aconteceu ao longo destes anos!!!
2) A função da música pode ser também um modo de socialização, formação de grupos. E nesses grupos pode surgir a identificação com um estilo musical e também a apreciação (de cada membro) de uma banda específica, isso para manter a individualidade de cada um. Teve um grupo de amigos assim? Qual era a “sua” banda e existia algum estilo que não gostava e que outros amigos apreciavam?
Nunca tive um grupo de amigos especifico para falar sobre música. Acabei suprindo isto fazendo amizade com donos de lojas que, mais tarde, viria a descobrir eram referencia mesmo para sites como o ProgArchives pelo conhecimento enciclopédico ambulante (caso do fantástico e já falecido Orlando Almeida, dono da Halley Discos do Rio ou o Renato, dono da Satisfaction também no Rio e, no passado, produtor do Blues Etílicos).
Meu interesse se multiplicou tanto, frente a influência destes “mentores” que não me fixei em nenhuma banda que eu pudesse “chamar de minha”, embora eu pudesse citar uma dezena (ou talvez centena) de bandas que gosto muito.
A relação com estes “mentores” sempre me colocava de frente à coisas, estilos e bandas novas. Portanto, era relativamente comum ter estilos que meus amigos ainda não gostavam, mas mais tarde acabavam gostando.
Particularmente não tenho um estilo que não goste, embora tenha minhas preferências sejam bem claras pelo progressive rock, hard rock, blues rock, jazz fusion e, mais “recentemente” o jazz tradicional (bebop, hard bop, etc).
O que eu realmente não suporto é axé, pagode, funk (este que chamam de funk, mas que nada se assemelha ao bom e velho funk de um James Brown), mas acho que isto não deve ser diferente para nenhum dos entrevistados deste blog!!!
3) Qual o seu show inesquecível, qual o que se arrepende não ter ido e qual o que gostaria de ir mas nunca teve oportunidade, seja pela distância ou até pelo tempo, tipo um show que foi realizado quando era criança ou não era nascido?
Ainda em Porto Alegre assisti o Echo & the Bunnymen, que por si só já era o máximo para mim na época, mas o que arrasou mesmo foi eles fazerem covers dos Beatles no bis. Aquilo me marcou tanto, é como se eu estivesse em um túnel do tempo ouvindo Beatles, sendo tocado com respeito e idolatria por outra banda ícone. Não por acaso, cacei um disco do Echo & the Bunnymen que tivesse covers dos Beatles e Lou Reed ao vivo, coisa que só fui conseguir lá pelo ano 2000 em Londres.
Poderia citar outros shows marcantes da mesma época, mas vou preferir fazer referência ao show do Paul McCartney no Morumbi uns 3 ou 4 anos atrás.
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Nunca tive a oportunidade de assistir o Rolling Stones. Perdi a oportunidade quando fizeram o show na Praia de Copacabana por bobeira. Minha esposa fala disto até hoje!
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Ainda quero dar um jeito de assistir o Neil Young e Lloyd Cole, mas está difícil de conciliar uma viagem onde eles estejam se apresentando. Quem sabe?
4) Se não pudesse escutar nenhuma banda ou interprete que lançou discos no século passado o que escutaria hoje? E qual a sua fonte de atualização musical?
Talvez esta seja a pergunta mais difícil para responder, porque estou altamente concentrado nas bandas e músicos dos anos 70. Depois de ouvir aquelas bandas, fica muito difícil ter interesse por algo “novo”. Mas para não deixar a pergunta sem a resposta que merece vou citar “Os Relógios de Frederico”, boa banda gaúcha surgida lá pelo ano 2000 (fui no limite do século, hein?).
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Minha fonte atual de atualização musical são meus próprios discos.
As bandas chamadas “obscuras” da década de 70 surgiam e desapareciam na velocidade da luz, e os músicos formavam outras bandas, tão meteóricas e boas quantas as anteriores.
Então, eu “sigo” o músico e as bandas seguintes ou anteriores, então a pesquisa é continua e normalmente muito próspera.
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Com o advento da internet, tudo ficou mais fácil. Para pesquisar discografia e ter uma ideia se aquela nova banda pesquisa vai rolar, uso um site chamado “RateYourMusic” (www.rateyourmusic.com).
5) Fale umas dez bandas, músicas ou discos que modificaram a tua vida de alguma forma e se quiser descrever como e porquê?
Tem muita banda e músico que gosto em diferentes estilos.
Vou pensar na resposta como se fosse aquelas do tipo “discos que você levaria para uma ilha deserta”.
Vou destacar alguns por estilos mais significativos para mim.
JAZZ FUSION
Miles Davis – “A Tribute to Jack Johnson” (Estados Unidos)
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SOUTHERN ROCK
Wet Willie – “Keep on Smilin’” (Estados Unidos)
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POP ROCK
Microdisney – “The Clock Comes Down the Stairs” (Irlanda)
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Lloyd Cole & the Commotions – “Rattlesnakes” (Inglaterra)
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NACIONAL
Preferi escolher um músico gaúcho que acho que merece mais respeito a nível nacional, porém não poderia deixar de citar a também gaúcha Liverpool (da década de 70), que junto com os Mutantes fez algo mais criativo no Brasil, grandes músicos brasileiros e praticamente desconhecidos por aqui mas cultuados no exterior, como Hermeto Paschoal, Airto Moreira, Dom Salvador, Egberto Gismonti etc.
Então vou de:
Nei Lisboa – “Hein?” (Brasil)
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BLUES ROCK
Cuby & the Blizzards – “Groeten uit Grollo” (Holanda)
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Savoy Brown – “Street Corner Talking” (Inglaterra)
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Free – “Fire and Water” (Inglaterra)
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PROGRESSIVE & HARD ROCK, PROGRESSIVE FOLK
Satin Whale – “Desert Places” (Alemanha)
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Twenty Sixty Six & Then - “Reflections on the Future” (Alemanha)
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Atlas – “Bla Vardag” (Suécia)
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Triode – “On n’a pas fini d’avoir tout vu” (França)
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Horslips – “Happy to meet – sorry to part” (Irlanda)
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Pop Masina – “Kiselina” (Sérvia)
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Svanfridur _ “What’s Hidden There?” (Islandia)
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Jazz Q (com Modry Efekt) – “Coniunctio” (República Tcheca)
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Aunt Mary – “Loaded” (Noruega)
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Frumpy – “2” (Alemanha)
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Lighthouse – “One Fine Morning” (Canadá)
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Mr. Albert Show – “Warm Motor” (Holanda)
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Pan y Regaliz – “Pan y Regaliz” (Espanha)
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Carol of Harvest – “Carol of Harvest” (Alemanha)
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Masters Apprentices – “Choice Cuts” (Austrália)
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Altona - “Chickenfarm” (Alemanha)
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Krokodil – “An Invisible World Revealed” (Suiça)
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Writing on the Wall - “The Power of the Picts” (Inglaterra)
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Rainbow Band (aka Midnight Sun) – “Rainbow Band” (Dinamarca)
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6) Toca ou já tocou algum instrumento? Teve alguma banda, mesmo que imaginária, como ela era?
Comecei a aprender bateria quando tinha uns 13 ou 14 anos, mas não deu para continuar porque a grana dos meus pais estava curta.
Como qualquer aficionado por musica, “toco todos os instrumentos” das músicas que eu gosto.
Acho que todos tivemos uma banda imaginária em diversas fases da vida. Penso mesmo que, quando estamos ouvindo uma banda ou músico que gostamos, de alguma forma nos imaginamos tocando com eles!!!
7) Já atacou de DJ ou algo parecido? como foi a experiência?
Fiz uma investida por assim dizer quando inventei de fazer uma festinha para minha irmã lá em Passo Fundo. Peguei dois pratos, os LPs, botei umas luzes na sala e ataquei de disco na época (Silver Convention, Tavares, e por ai vai...).
De vez em quando renovo uns “playlists” no meu iPod que acabam tocando em algum encontro com amigos. Só isso!
8) Se fosse para participar de uma banda, qualquer uma, qual seria e que instrumento tocaria?
Não me vem nenhuma banda especifica à cabeça, ou melhor, me vem diversas, a grande maioria de Progressive Rock. Qualquer uma das bandas que listei acima eu me vejo dentro (hahahaha). Gosto de praticamente todos os instrumentos, mas vou puxar a sardinha para o assado da bateria ou baixo.
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9) Que músicas ou estilo embalariam ou embalam tarefas cotidianas ou dias específicos, tipo passear de carro em uma tarde de sábado de primavera? Praticar um esporte radical? atravessar a cidade a pé em uma madrugada de inverno?
Ouço bastante Progressive Rock, Hard Rock e Jazz Rock quando estou sozinho (e alto é claro!).
Quando estou com a família, preciso pegar mais leve, então rola uma MPB, Jazz tradicional, Pop Rock, estas coisas.

10) Acho que todos gostamos de algumas músicas que não tem muito a ver com a imagem que temos de nós mesmos, que música ou banda não gostaria de ser flagrado ouvindo por uma pessoa que não te conhece ainda? Que poderia criar uma imagem errada do teu gosto?
Não gosto de axé, pagode, funk. Fujo dos locais onde eventualmente está tocando algum destes estilos mas às vezes não dá para fugir. Mais do que ser, por acaso flagrado em alguns destes locais é não conseguir “desligar” o ouvido!!!
11) Na adolescência qual era o estilo de música que tu achava que estaria ouvindo hoje e qual realmente está?
Progressive Rock, mas acho que é mera coincidência, já que estive focado em diversos estilos em diferentes períodos da minha vida.
12) Números. Quantos discos, cds, dvds, k7 e livros musicais já teve até agora. Indique alguns livros e filmes interessantes sobre música.
Well. Parei de contar e tentar organizar por estilos faz algum tempo (embora a vontade ainda esteja lá). Imagino que deva ter uns 3.000 a 4.000 CDs.
Meu foco é disco e a esmagadora maioria são discos de estúdio.
Disco ao vivo não tem muito apelo para mim. Devo ter no máximo 20 discos ao vivo. Prefiro ir no show mesmo.
DVDs também não é muito meu foco, tenho pouquíssimos, de uns shows obscuros (mas muito bons), mais intimistas, de caras como América, Lloyd Cole & the Commotions, Neil Young.













































































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